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Governo deve usar excursão à Índia para abrir portas ao agro

Diz Xico Graziano, mercado de açúcar e carne de olho


O presidente Jair Bolsonaro embarca para a Índia nesta 5ª feira (23 jan.2020). A viagem poderá ter grande significado comercial. Desta vez, porém, o agro nacional está espremido na agenda de negócios. O gigante indiano rivaliza com o Brasil em 2 importantes mercados agrícolas: no açúcar e na carne bovina. Quanto ao 1º, esquentou a rixa em julho de 2019, quando o Ministério da Agricultura brasileiro solicitou a abertura de 1 painel de controvérsias na OMC (Organização Mundial do Comércio). Acontece que a Índia passou a dar fortes subsídios às suas exportações de açúcar, pois seus estoques internos estão elevados. Foram US$ 876 milhões oferecidos às empresas, visando estimular a exportação de 6 milhões de toneladas de açúcar em 2020. Para comparação, as exportações nacionais atingiram 19 milhões de toneladas em 2019. A Índia não recuou frente à reclamação brasileira na OMC. Por consequência, depreciou o mercado internacional do açúcar. Presente na comitiva presidencial, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, leva uma proposta: ampliar a cooperação na área da bioenergia. Objetivo: ajudar a Índia a deslocar a moagem de cana-de-açúcar para a produção de etanol. Os empresários brasileiros têm know-how suficiente para auxiliar a Índia na implementação de 1 parque agroindustrial ligado ao setor sucroalcooleiro. Ampliar as destilarias indianas ajudaria a enxugar o mercado de açúcar. Os planos indianos, com suporte brasileiro, permitiriam elevar a mistura do etanol na gasolina, passando dos 7% para até 20% em 2030. Com respeito à carne bovina, embora lá a vaca seja sagrada, a Índia é 1 grande exportador mundial de carne, disputando a liderança com Brasil, Austrália e Estados Unidos. Nos últimos 5 anos, esses países se digladiaram nesse fantástico mercado de proteína animal. Há uma diferença: a Índia fortaleceu o aproveitamento de seu rebanho de bubalinos. E boa parte da sua carne de búfalo está sendo vendida para a China, de forma clandestina, via Vietnã. Por essa e outras, os pecuaristas nacionais não veem brecha para a venda de carne bovina. Eles miram a parceria na pecuária leiteira da Índia. Poucos sabem, mas existem duas espécies de bovinos domesticados: o Bos taurus taurus (europeu) e o Bos taurus indicus (indiano). Estes, também chamados zebuínos, são reconhecidos, externamente, por aquele cupim que apresentam no dorso, como se observa nas raças de Nelore, Guzerá ou Gir. O gado europeu (Holandês, Jersey, Charolês, Angus, Hereford) não tem cupim. Cerca de 80% do rebanho brasileiro de bovinos é formado por raças indianas, bem adaptadas ao clima tropical. O Nelore, que predomina, entretanto, produz muita carne, mas dá pouco leite. Essa é a oportunidade da pecuária indiana, que poderia contar com a colaboração brasileira: aumentar a produção de lácteos. Falando ainda em agricultura, quem mais está de olho no mercado indiano são os produtores de feijão. O Brasil começou a exportar feijão (165.000 toneladas, com receitas de US$ 111 milhões em 2019) e os indianos estão entre os poucos povos consumidores desse rico cereal. Café, cacau, frutas, chá mate, couros, há várias outras chances aparecendo no mercado de alimentos indiano. A Índia, afinal, é a 10ª maior economia do mundo e seu PIB cresce fortemente, fazendo praticamente dobrar a renda per capita nos últimos 10 anos. Aumenta, em decorrência, a demanda por comida da populosa nação. A Índia estava fora do radar comercial brasileiro. Se abrir as portas com nossos produtos agrícolas, o Brasil vai consolidar seu caminho para se tornar o maior exportador mundial de alimentos. Tomara.

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