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Nenhum coronavírus detém o produtor rural brasileiro


Nas cidades, tudo está parando; no campo, as coisas andam muito aceleradas. Estamos na época da colheita. Não há coronavírus que faça o agricultor parar de trabalhar. O Brasil está batendo um recorde histórico na safra de soja. Puxada por ganhos de produtividade física (sacas/hectare) verificadas em Goiás e no Mato Grosso, que juntos respondem por quase 40% do total, a última estimativa da produção foi de 123,2 milhões de toneladas (Conab). Será a maior safra de soja do mundo. As colheitadeiras estão zunindo na roça. Na semana passada, a área colhida estava, na média das regiões, em 59% da área plantada. O Mato Grosso praticamente já finalizou sua colheita, pois semeia a leguminosa antes dos demais. No Oeste da Bahia a colheita batia em 18%; no Rio Grande do Sul, onde houve seca no início dos plantios, apenas 9% já foram colhidos. Mas logo, talvez uns 30 dias, estará tudo finalizado. Mal acabam de colher a soja, os agricultores partem para semear o milho. Muitos já o fizeram. Essa é a regra da produção agrícola integrada que manda no país atualmente. Significa 2 safras consecutivas, na mesma área. As estimativas apontam para uma safra de 104 milhões de toneladas de milho. Excelente. Poderá o coronavírus atrapalhar a comercialização desse enorme volume de grãos que o país colherá em 2020 - E nos demais setores do agro? Esta é a grande questão que se coloca agora: quais os efeitos dessa surpreendente e inédita crise sobre a agricultura nacional? Inexistem informações suficientes para se aquilatar, com razoável, precisão, como a crise econômica global afetará o agro brasileiro. Variados impactos, negativos em geral, se esperam, comprometendo a renda agropecuária. Quanto tempo durará, ninguém sabe prever. Nessa conjuntura incerta, destaco 6 pontos importantes ao agro para serem monitorados: A China compra cerca de 80% das nossas exportações de soja. Se o gigante asiático reduzir o volume adquirido, irá complicar nossa situação. Mas os chineses precisam do farelo da soja para alimentar sua suinocultura, que aos poucos se recupera da profunda crise causada pela peste africana, que aniquilou boa parte de seu rebanho e reduziu a oferta de porco em 21,3%. A conferir. Se houver compressão nas vendas externas de grãos, soja e milho principalmente, a estocagem nacional será testada. Hoje a capacidade estática de armazenamento, público ou particular, se situa em 72% da safra. Demora na comercialização, interna ou externa, pressionará o sistema, que é mais forte no Sul-Sudeste, enquanto que a fronteira agrícola se expandiu para Centro-Oeste. Nas carnes "bovina, suína e frangos" a situação parece mais confortável. Mesmo com a eventual queda do poder aquisitivo global, as vendas externas estão boas. Estudo recente da FGV Agro mostrou que, em fevereiro, as exportações para a China cresceram 43,5% nos bovinos e 78% nos suínos e frangos. Falta carne no mercado mundial. Os frigoríficos brasileiros, que aglutinam grandes equipes de trabalho, continuam funcionando normalmente pelo interior afora. Se, porém, a covid-19 se alastrar pelo país, haverá sérios problemas em manter as linhas de produção. É preocupante. Os centros de abastecimento interno de hortifruticolas, como o Ceagesp e os Ceasas, são os mais frágeis elos da cadeia de suprimentos frente à pandemia. Localizam-se nas capitais e grandes cidades, promovendo grande circulação de pessoas. Motoristas de caminhões atravessam o país sem parar. O potencial de disseminação do vírus é alarmante. Poderão ser fechados. Fruto das incertezas globais, a escalada do dólar provoca reflexos na rentabilidade do setor rural. Por um lado estimula as exportações, ajudando não apenas os grãos e as carnes, mas também o açúcar, o algodão, a celulose, o café; por outro lado, encarece as importações. Aqui, o problema afeta gravemente as compras de trigo, único alimento que faz o país depender do exterior. Haverá reflexos no preço do pão e das massas. Quanto aos insumos, a tendência será de elevação de preços de fertilizantes e defensivos agrícolas para o plantio da próxima safra. A maior contribuição que o agricultor brasileiro pode dar para superar essa crise é continuar trabalhando, suando ao ar livre, tomando pó no rosto, calejando suas mãos, para garantir que não falte comida nos lares do país. Assim será feito. Nenhum coronavírus detém o produtor rural brasileiro. Gostou?

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