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Enchentes em SP devem-se à falta de planejamento, diz Xico Graziano

Problema é na ocupação do solo urbano; governantes acusam mudança climática


Vou contar uma coisa. Chover 114 milímetros em 24 horas, como aconteceu em São Paulo, entre domingo e segunda-feira, significa uma chuva "criadeira" lá na roça. Não seria um temporal, zero estragos. Uma benção dos Céus. O que estou querendo dizer com isso? Que não foi exagerada a precipitação que provocou enormes transtornos, com mortes, na capital paulista. Demasiada, isso sim, é a incompetência do poder público para enfrentar esse desafio das enchentes. Que é histórico. Em 1929 ocorreu uma tremenda chuva em São Paulo, a primeira bem documentada. Desde então, volta e meia a população sofre com os alagamentos. Foram dezenas deles, transtornando a metrópole, inundando a cidade. A engenharia paulistana nunca venceu esse drama causado pelo adensamento humano. Por que? Trata-se de um problema elementar, relacionado ao uso e ocupação do solo urbano. Especialmente na época do forte êxodo rural, verificado há 60 anos, a expansão urbana ocorreu de forma descontrolada. Milhões passaram a habitar áreas de risco, incluindo mananciais. Acumulou-se um déficit na infraestrutura municipal. Não se trata de problema com fácil, nem barata, solução. Exige pesados investimentos, trabalho firme na zeladoria. Nunca, porém, você escuta um gestor público reconhecer a responsabilidade do Estado pelo caos provocado pelas enchentes. Não. Sempre é obra de São Pedro. A cada tragédia, os governantes se esforçam para contemporizar, tergiversar. Desta vez, inovaram nas desculpas: acusaram as mudanças globais de clima pelo sofrimento urbano. Foi curioso perceber uma curiosa sintonia entre eles e os catastrofistas ecológicos. É meio patético. Tudo, a priori, facilmente se explica, ou se justifica: queimadas na Amazônia, fogo na Austrália, chuvarada em São Paulo. Na dúvida, coloque a culpa no aquecimento global. O raciocínio se tornou uma espécie de mantra que serve a ecologistas, jornalistas e políticos que sofrem da preguiça do pensamento. É verdade que chuvas mais intensas têm se tornado comuns nas últimas décadas. Tais eventos, mais extremos, parecem estar associados tanto às mudanças globais quanto às alterações no microclima. Quem afirma é o climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). O microclima de uma região se modifica quando 20 milhões de pessoas passam a residir num mesmo local, ocupando os vales que escoavam as águas naturalmente durante milênios. O asfalto, as construções, sistemas de transporte, criam ilhas de calor e impermeabilizam o terreno nas grandes aglomerações humanas. Fica cômodo para os políticos justificarem as enchentes pelas mudanças climáticas que afetam o planeta Terra. Serve para desviar o olho do problema central: as inundações nas metrópoles devem-se à falta de planejamento no uso do solo urbano. Ponto final.

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