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Abelhas merecem respeito - por Xico Graziano


As abelhas não desaparecerão. Mas não custa protegê-las. Fora o delicioso mel que fabricam, cumprem papel fundamental na agricultura. Polinizam as flores e favorecem a produção de alimentos. Nas últimas décadas, em várias partes do mundo, pesquisadores registram distúrbios e declínios em populações de abelhas, silvestres ou domesticadas. Sem conseguirem comprovar as causas, passaram a descrever o terrível fenômeno como "colony colapse disorder". Ou síndrome CCD. Segundo o conhecimento científico atual, inexiste fator único da síndrome CCD. Normalmente as causas do colapso das abelhas aparecem associadas, destacando-se: perda de habitats, nutrição, patógenos e parasitas, agrotóxicos. Ocorrem mais no Hemisfério Norte. No Brasil, estudos mais completos sobre abelhas existem em São Paulo e Santa Catarina. Registram-se mortalidades em massa desses insetos há tempos, mas nada indica ocorrência da síndrome CCD. Parecem ser localizados e acidentais. Veja publicação da Embrapa (2016). Este é o conhecimento atual sobre o desaparecimento das abelhas. Enquanto cientistas do mundo inteiro tentam entender a síndrome que afeta as colmeias, no Brasil alguns incautos já descobriram a causa: os agrotóxicos do Bolsonaro! É incrível como o debate político nacional descamba para o ridículo em certos temas. Utilizam-se informações sem origem qualificada, inventam-se teses, criam-se mitos, numa espécie de chutômetro ideológico. Agrotóxicos lideram essa paranoia fake. Vamos aos fatos. Abelhas são insetos, e, como tal, sofrem os efeitos deletérios dos inseticidas. Qualquer 1 deles. Vale para a roça como para a residência: se pulverizar o produto sobre os bichinhos, mata. É óbvio, portanto, que o tratamento fitossanitário das lavouras exige cuidado para não afetar os enxames. Produtores de frutas, como os de maçã, melão, citrus, especialmente, são espertos nisso. Eles sabem que, em suas plantações, as abelhas são essenciais na fertilização dos pomares. Por isso, os fruticultores protegem as colmeias, muitas vezes, as edificam. Por outro lado, nessa tarefa menos se ligam aqueles agricultores ligados à produção de grãos, onde o papel das abelhas é reduzido. Alguns pulverizam pesticidas sem observar as recomendações técnicas, principalmente na época da florada das lavouras. 1 crime ecológico. A situação começa a mudar. Pesquisadores como Décio Gazzoni, da Embrapa, mostram que, mesmo na lavoura da soja, as abelhas podem atuar na polinização, elevando a produtividade em até 10%. As abelhas merecem respeito. A aplicação incorreta de inseticidas é a causa mais provável da mortalidade de abelhas relatadas recentemente no Brasil. Os episódios trazem números assustadores: teriam morrido 500 milhões de abelhas entre o final de 2018 até março deste ano. Foram 400 milhões no Rio Grande do Sul, 50 milhões em Santa Catarina, 45 milhões no Mato Grosso do Sul e 7 milhões em São Paulo. Ninguém sabe ao certo de onde surgiram esses números. Em Santa Catarina, onde as informações são mais precisas, a mortandade, ocorrida em regiões de sojicultura, atingiu 200 apicultores. Segundo a Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina) existem 9,7 mil produtores, com um total de 315 mil colmeias, no estado. Na média, cada colmeia abriga 80 mil abelhas. Ou seja, o plantel apícola catarinense soma ao redor de 25,2 bilhões de abelhas. A desgraça, embora pudesse ser evitada, atingiu apenas 0,2% das abelhas melíferas. Como o acidente não se repetiu, a população de abelhas deve ter voltado ao normal. Abelhas se reproduzem com incrível rapidez, sendo que uma abelha-rainha põe até 3 mil ovos por dia. Existem 2 fatores limitantes: disponibilidade de alimentos e, associado a este, falta de habitats protegidos. Nesse sentido, a preservação das matas ciliares, obrigatória pelo Código Florestal, está recuperando vegetação nativa que circunda pequenos córregos e nascentes. Tais corredores de biodiversidade, que surgem pelos campos, favorecem a proteção da fauna, incluindo as abelhas. Concluindo: 1) existem, sim, problemas na aplicação de agrotóxicos, causando mortandade em abelhas; 2) Face ao conhecimento agronômico disponível, poderiam ser evitados; 3) Tais acidentes, porém, não sinalizam mortandade crônica de abelhas; 4) O cenário futuro do agro indica maior proteção dos enxames; 5) Abelhas morrem facilmente, mas se reproduzem rapidamente. Ah, Jair Bolsonaro não tem nada a ver com isso.

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