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Lixo tem valor, lixo é energia, escreve Xico Graziano

É o que pensa a indústria cimenteira; Ministro falou em recuperar o atraso


Finalmente o Brasil começou a descobrir o valor dos resíduos sólidos. Vai, ou deveria, parar de enterrar aquilo que pode ser reaproveitado. Lixo, afinal, vale dinheiro. Essa é a visão da indústria cimenteira no Brasil. Os fornos da Votorantim Cimentos, por exemplo, queimam, há anos, variados tipos de resíduos, agrícolas e industriais, desde casca de coco babaçu até pneu velho. Chama-se isso de "coprocessamento". Mais recentemente, surgiu a grande novidade: a queima de parte do lixo doméstico. Na planta de Salto de Pirapora (SP), o CDR (Combustível Derivado de Resíduo) já participa com cerca de 30% da energia utilizada na Votorantim. Tecnologia sensacional. Esse é o princípio da economia circular que, na prática, está sendo utilizado na fabricação de cimento do país: o resíduo de um setor entra como insumo do outro. Desaparece assim, pois reutilizado, o velho e fedorento lixo. Vira energia. Falta agora essa agenda positiva se tornar uma política pública de verdade. A legislação nacional de resíduos sólidos (Lei 12.305, de 2010) está aprovada há quase uma década. Mas teima em não sair do papel. É como se ninguém - governo, políticos ou ambientalistas - ligasse para as vergonhosas montanhas de lixo que emporcalham a maioria das cidades brasileiras. Agora parece que vai. Presente em Sorocaba nesta 2ª feira (15.abr.2019), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, abriu o seminário "Resíduo de Valor" com palavras encorajadoras. "Precisamos recuperar esse atraso da política ambiental, que pouco se preocupou com os problemas urbanos. Vamos avançar". Tomara. Segundo o Instituto "Movimento Cidades Inteligentes", que coordenou o evento de Sorocaba, a formação de consórcios municipais pode ser a grande saída dessa equação sustentável. Hoje, sozinhos, os municípios pagam caro para enterrar o lixo celerado. Em conjunto, poderiam facilmente viabilizar locais, envolvendo as cooperativas de reciclagem, para a destinação correta dos resíduos sólidos. Uma família de 5 pessoas gera aproximadamente duas toneladas de lixo por ano. Não é pouco. Cerca de 25% desse volume (plásticos, tecido, madeira, borracha) pode facilmente ser separado e triturado para virar combustível (CDR) nos fornos industriais. A redução de custo das prefeituras "que pagam por tonelada enterrada nos aterros" pagaria a conta do aproveitamento energético do lixo. Vejam só. O coque, derivado de carvão mineral, é a matéria-prima tradicionalmente utilizada nos fornos da indústria de cimentos. Energia suja, cara, importada, cuja substituição pelo CDR logra vantagem econômica e ambiental. Reduz emissões de CO2 (dióxido de carbono), melhora o saneamento básico do país. Eis aqui um verdadeiro jogo de ganha-ganha: o aproveitamento energético do lixo urbano traz benefícios ambientais para toda a sociedade. Tecnologia disponível, demanda firme, economia garantida. Ninguém perde. O que parece impossível "acabar com os lixões" tem fácil solução. Falta fazer.

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