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Fazer política significa também sonhar - por Xico Graziano


Decepcionado, desfiliei-me recentemente do PSDB. Sou agora um "sem-partido". Ganhei graus de liberdade para exercer minha cidadania política. Entrei no PSDB quando de sua fundação, em 1988, pelas mãos do então senador Fernando Henrique Cardoso. Participei ativamente da organização partidária, militando em sua área de formação política. Bons tempos. Éramos jovens, aguerridos e idealistas. Havíamos lutado contra o regime militar, defendendo as liberdades democráticas. Não comungávamos, porém, das ideias da esquerda radical. Acreditávamos que as mudanças, necessárias para tornar o Brasil mais próspero e justo, exigiam diálogo, não gritaria. Afora razões doutrinárias, o PSDB surgiu também para romper com o esquema quercista, que na época passou a dominar o MDB. Mais que a ideologia, o que unia Franco Montoro, Mário Covas, José Richa e FHC era o horror às falcatruas e ao fisiologismo político. Com FHC na presidência da República e Mário Covas governando São Paulo, entre 1994 e 2002 o PSDB viveu sua fase de ouro. Dela participei como Deputado Federal (SP). Reformas estruturantes foram realizadas, na economia e na sociedade. Cultivando a democracia, o Brasil retomou os trilhos do desenvolvimento. O destino, porém, pregou-nos uma peça: Mário Covas, que certamente sucederia a FHC em 2002, faleceu. José Serra não se mostrou competitivo, e Lula venceu. Assim, o PT navegou na onda virtuosa trazida pela estabilização da economia. FHC plantou, Lula colheu. O tempo passou, tudo mudou. Quando a economia global esfriou suas turbinas, a sociedade percebeu que havíamos perdido o bonde do progresso. Lula ofertara benesses populares emitindo notas promissórias contra o futuro. Ou seja, gastança sem lastro. Populismo puro. Adentramos na era da desilusão política. Primeiro, o Mensalão; depois, a operação Lava Jato. O projeto vermelho no poder, alicerçado na cooptação do Congresso Nacional, fizera apodrecer todo o sistema partidário criado na Nova República. Desmoralizado, prostituído, entrou em falência. O PSDB não soube se diferenciar nessa tragédia da democracia brasileira. Desgraçadamente auxiliou a encená-la. Conforme diria Sérgio Mota, se apequenou. Perdeu o nexo com a sociedade, perdeu prestígio, perdeu identidade. Perdeu moral. Sem um projeto maior de país para defender, conforme sempre defendeu FHC, suas lideranças passaram a brigar entre si. Nos últimos 15 anos, a luta pela hegemonia interna dominou a agenda tucana. É necessário botar o dedo na ferida: José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, que se odeiam mutuamente, entraram numa insana e eterna disputa que, ao envolver os quadros partidários, moeu a inteligência tucana. Por essas e outras, a socialdemocracia brasileira se desfigurou em sua história. Abandonou suas grandes causas e perdeu o rumo. A questão não é apenas nacional. Em Araras (SP), minha terra natal, o PSDB se guia por tudo aquilo que combatíamos no passado. Mais que frustrante, é repulsivo. Desculpem-me meus amigos tucanos, mas senti asco quando Geraldo Alckmin fechou sua coligação eleitoral com notórios bandidos da política. Ganhou tempo de televisão, perdeu a bandeira da ética. Esse pragmatismo da política, necessário em certo sentido, contém um terrível germe que, se não controlado, destrói as utopias. Fazer política significa também sonhar. Infelizmente essas eleições só nos trazem pesadelos.

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