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Uma fábula malvada contra o agricultor nacional - por Xico Graziano


O ruralista brasileiro é um malfeitor, tremendo mau caráter. Se der brecha, ele sacaneia a nação. Pouco se lixa para a pesquisa científica, não está nem aí para o meio ambiente. É um louco, desvairado. Parece gozação, mas é muito grave. Basta pesquisar na rede e verificar o que falam jornalistas, juízes, promotores, artistas, cantores e outros "especialistas" da moderna agricultura nacional. O veredicto é certeiro: se existe um mal sobre a Terra, este se chama produtor rural. É muito sério. Os agricultores fazem alianças com as multinacionais para se entupir de dinheiro. Seu negócio é produzir a qualquer custo. Pouco importam as consequências sobre a saúde pública ou a segurança alimentar. São gananciosos e egoístas. Sádicos, esses caipiras têm prazer no sofrimento alheio. Pretendem envenenar a população brasileira e nem pestanejam. É só conferir o ?pacote do veneno?, uma malandragem disfarçada de projeto de lei no Congresso Nacional. Tem isso também. Os ruralistas adoram enganar a opinião pública. Vejam também o caso do desmatamento. O objetivo dos produtores rurais, podem ter certeza, é acabar com todas as árvores sobre a Terra. Que passarinhos que nada; sombra fresca e biodiversidade só atrapalham o traçado do trator. Tem mais. Derrubar as matas estraga as nascentes e prejudica o abastecimento d?água. E se existe um gosto maior do agricultor, este é o de destruir os recursos hídricos para sacanear as cidades. Divertem-se imaginando ninguém mais poder lavar as calçadas com o esguicho das mangueiras. Plantar commodities é sua preferência. O desejo do produtor rural é exportar para os gringos bacanas, receber em dólares. Imagine cultivar arroz, feijão, mandioca, essas comidas de pobre. Nem pensar. Pior. Os pecuaristas não estão nem aí para o sofrimento animal. Insensíveis, exportam gado vivo como se fossem mercadorias mortas. Ficam defendendo o valor proteico das carnes, sem considerar o enorme efeito-estufa do arroto do boi. Nem o pum da senhora vaca. É inacreditável. Os agricultores pagam para ?controladores? matarem os javalis que invadem suas fazendas, só porque os bichos destroem suas plantações. Assim não dá mais. É preciso reagir à maldade ruralista. Articular com os presidenciáveis para, independente de quem vencer, nomear para ministro da agricultura aquele juiz que, dias atrás, proibiu o uso do herbicida glifosato nas lavouras nacionais. Não dá mais para aguentar ministros da agricultura que defendem o agronegócio. Os produtores dizem que sem o uso dos pesticidas químicos a safra vai cair. Conversa fiada. Vamos treinar o pessoal para pegar no cabo da enxada e ir carpir mato na roça; os mais velhos ajudam a arrancar as ervas com as mãos. Vai fazer um bem danado espairecer nos campos, suar um pouco no sol, tomar uma poeira. Se der pragas e doenças, preparamos uma calda de fumo para pulverizar nas lavouras; besouros e lagartas, catamos na unha. No caso de viroses e bacterioses, bem, aí fazemos umas mandingas para ver se as espantamos. Caso afete, realmente, a produção agrícola, sem problemas. Proibimos a feijoada, acabamos com o churrasco, macarronada com frango, só o peito. Sim, combinamos com os chefs de cousine, nossos amigos superecológicos, para abrirem seus restaurantes no almoço do povão com preços baratos. Vai ser muito chick. Esta espécie de fábula malvada contra o agricultor nacional está sendo encenada no país recentemente. A plateia se enche de gente rica e bem de vida. Seus atores, treinados no anti-iluminismo, defendem melhorar o mundo combatendo o avanço tecnológico do agro. Uma tragicomédia retrógrada e profundamente elitista.

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